quarta-feira, 23 de março de 2011

2003 • Tv Cultura / Repórter Eco - Quadro Biodiversidade Brasil

Data: 28 de Setembro de 2003
Pauta: Produtos certificados

 
Depoimentos: José Luiz Lopes, diretor da Ecoléo; Davis Tenório, empresário da loja Espirito da Amazônia; Paulo Alves, arquiteto; Ana Yang, secretária executiva do Grupo de Compradores.
A certificação é uma prática recente no mundo. Surgiu há cerca de uma década, o que explica em parte a dificuldade dos consumidores de encontrar produtos certificados. De cada cinco árvores cortadas na Amazônia, uma tem como destino o estado de São Paulo. A ECOLÉO, localizada na capital do estado é a primeira da América Latina a vender madeiras certificadas. Inaugurada em janeiro de 2003, vem aumentado a oferta de produtos.


     "Hoje temos praticamente toda a linha de produtos certificados para construção de armários embutidos, cozinhas, estantes, prateleiras. Na linha da construção civil, temos chapas de formas plastificadas, tábua de pinus e também é possível encontrar pisos de madeira certificada." conta José Luiz Lopes, diretor da Ecoléo.


     Para garantir o estoque, a loja compete com o mercado exportador. Por isto os preços são ainda mais altos: até 30% comparado às madeiras extraídas ilegalmente ou de forma predatória. Na loja Espírito da Amazônia, produto certificado tem preço mais competitivo. Por exemplo, uma bandeja custa R$ 70,00 reais. A empresa tem uma versão da loja na internet e oferece ao consumidor produtos certificados agrícolas, madeiros e não-madeireiros, certificados pelo Instituto Biodinâmico e pelo FSC - Conselho de Manejo Florestal do Brasil. Além de artigos de comunidades tradicionais, como as cerâmicas tapajônicas e marajoaras e até arranjos de flores nativas produzidas com autorização do IBAMA.


     "Na verdade queremos vender a Amazônia para brasileiros. Sempre falamos que americano não conhece o Brasil, mas, pela experiência do dia-a-dia, o brasileiro não conhece a Amazônia, não tem informação e acaba confundindo o estado do Amazonas com a Amazônia como um todo", afirma Davis Tenório, empresário da loja Espirito da Amazônia. 


     A loja também possui outras novidades, como o buffet de produtos orgânicos e as cestas 100% certificadas. "A cesta tem um conceito de brasilidade: uma cesta 100% orgânica composta por 27 produtos e até com algumas novidades no mercado, como por exemplo, vinho orgânico (tinto e branco), cachaça orgânica envelhecida, suco orgânico, tomate seco orgânico, geléia, manga orgânica. O papel usado na cesta é feito de fibra de banana. O cesto Baniwa vem da tribo indígena Baniwa da Amazônia", conta Davis Tenório.


     Outro exemplo de busca por madeira certifica é a história do arquiteto Paulo Alves, sócio de uma marcenaria em São Paulo. Ele sabe que a extração ilegal e predatória de madeira destrói a floresta para atender o mercado e consumidores como ele. Por isso, busca madeira certificada, mas não é fácil encontrar. "Você tem as grandes madeireiras que não estão interessadas no mercado interno, principalmente com empresas pequenas como a minha. Querem mesmo é exportar 99% da madeira para o mercado externo", conta Paulo.


     A alternativa é comprar das comunidades que trabalham com o manejo comunitário. O problema é o prazo de entrega. "Normalmente essas comunidades estão completamente organizadas em termos técnicos, sabem como fazer o mapeamento da floresta e o manejo sustentável. Mas há problemas com esse lado comercial, como saber o preço de venda da madeira e ter um fornecimento regular", afirma Paulo Alves.


     Apesar do esforço são poucos os móveis com madeira certificada, o que faz com que os produtos certificados sejam inacessíveis à maioria dos compradores. "Deveria custar mais barato porque uma madeira extraída da maneira correta, com pessoas trabalhando direito, sem propina, não tem nada que possa causar um superfaturamento no processo", diz Paulo.
Para estimular iniciativas e promover o consumo de produtos certificados, foi criado pela ONG Amigos da Terra o Grupo de Compradores que já reúne 70 empresas interessadas neste mercado. "O papel do consumidor está em cobrar a certificação dos produtos madeireiros e não-madeireiros. Na verdade é um direito e um dever cobrar as empresas da certificação", afirma Ana Yang, secretária executiva do Grupo de Compradores.


    O arquiteto Paulo Alves afirma que "Está na hora de mudar essa postura histórica e tradicional de exportar nossas riquezas de maneira bruta, ou seja, continuar a mesma história do pau-brasil". "A sociedade brasileira está começando a acreditar que os produtos brasileiros têm qualidade, tem designer e sobretudo você pode sustentar famílias com esses conceitos", finaliza Davis Tenório.


fonte: Tv Cultura - http://www.tvcultura.com.br/

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